quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Estoy de vuelta

Resolvi voltar. Na verdade, eu nunca pensei em parar. Mas não sei bem em que momento tive que ficar um tempo sem escrever e pronto, acabei deixando o blog abandonado. Mas o fato é que estou aqui e vou (espero) colocar vocês a par do que anda passando nessa minha espanha em crise (não se fala em outra coisa).

Antes vou dar uma atualizada, repassando a atual conjuntura sociopolítica da minha vida, para os que perderam alguns capítulos. Ainda estou em terras espanholas. Para ser exato, foi meu aniversário de um ano aqui na primeira semana de novembro. Estive no Brasil em setembro. Fiquei um mês no nosso querido País e voltei um pouco assustado com os preços de tudo por aí. Pobre ainda tem direito a comer? É uma dúvida que tenho.

Os planos que tinha quando cheguei aqui sofreram algumas alterações e um pequeno alargamento de tempo. Ainda não terminei o primeiro mestrado que vim fazer, mas já comecei outro. Agora faço dois (podem me chamar de doido).

Já não tenho a mordomia de uma bolsa de estudos e ando ralando para ganhar o pão de cada dia. Mas a experiência tem sido gratificante. Já não moro em uma residência universitária. Divido apartamento com uma brasileira (Júlia, na foto a da esquerda) e uma espanhola (Raquel). Na verdade dois anjos destes que cruzam nosso caminho. Nos conhecemos na residência e quando terminaram nossas respectivas bolsas resolvemos nos casar e morar juntos. O trimônio anda muito bem, obrigado, e me ajuda muito a enfrentar a barra por aqui.

É isso, quem ainda estiver interessado em conhecer um pouquinho mais da Minha Espanha, apareça por aqui.


¡Saludos a todos!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Elecciones generales en España: el debate

Candidatos à presidencia do Governo da Espanha: Zapatero (esq.) e Mariano Rajoy


Fiquei surpreso ao descobrir hoje, dia do último debate presidencial antes das eleições ao governo da Espanha (marcadas para o próximo domingo), que este tipo de ato democrático não acontecia há pelo menos 15 anos. Um país que saiu da ditadura em 1975 e teve suas primeiras eleições diretas dois anos depois, não podia, no entanto, ver seus candidatos a presidente debatendo cara a cara suas propostas de governo. Uma lei eleitoral, sancionada durante o governo do partido de direita, o Partido Popular (PP), impedia que as forças políticas se confrontassem através de um sistema de comunicação público.

Menos mal que a norma mudou e os espanhóis puderam assistir a pelo menos dois debates, um na semana passada e outro hoje. A forma como ele é feito também me chamou a atenção. Diferente do Brasil, em que todos os candidatos são convidados para o ato, aqui somente os dois partidos de maior representatividade podem falar de seus projetos.

A falta de dinamismo também me causou curiosidade. Durante as duas horas do programa, que é produzido por um sistema estatal e transmitido por quase todos os canais abertos, os candidatos devem seguir apenas os temas propostos e os tempos determinados. Nenhuma pergunta é feita, nenhum questionamento por parte da população ou mediador. Só os candidatos falam.

Ainda assim, acho que Mariano Rajoy (PP) e o candidato socialista e atual presidente José Luis Rodriguez Zapatero (PSOE) trataram de temas que, de verdade, nunca ouvi sair da boca dos políticos brasileiros. Temos que guardar as devidas proporções, claro, mas a questão social aqui, que tem problemas infinitamente menores que nosso país, foi amplamente discutida.

Na minha opinião, saiu ganhando Zapatero, que apresentou propostas mais concretas para sua gestão, diferente de Rajoy, que fez críticas duras às políticas econômica e antiterrorista (leia-se anti-ETA) do atual governo, mas sem apresentar suas idéias.

O tema da imigração, meu atual favorito, também não foi esquecido. Gostei de ver um Zapatero defendendo a importância dos imigrantes para a manutenção da economia espanhola e não me surpreendeu escutar a um Rajoy criticar a constante entrada de estrangeiros em território nacional.

Depois de apenas duas semanas de campanha – é o período determinado por lei - parte da população, já que o voto não é obrigatório, tomará sua decisão. Boa sorte a todos os espanhóis e a todas a nações que são diretamente afetadas com as decisões tomadas aqui neste país.

sábado, 1 de março de 2008

Una ciudad que canta

Madrid é uma cidade com trilha sonora. É quase impossível passear pela capital espanhola e não encontrar um artista de rua nas esquinas, pontos turísticos ou pelos vagões do metrô, com seus instrumentos e suas músicas bastante agradáveis.

No primeiro dia em que peguei o metrô já pude ouvir o pequeno show de um cara que entrou com um saxofone tocando músicas deliciosas de se escutar pela manhã. Não resisti e fiz uma foto, antes que ele passasse recolhendo as moedas que, felizmente, muita gente dá.

Em uma das ruas de acesso à Puerta del Sol, famoso ponto turístico de Madrid, uma banda inteira, com cinco músicos, tocava vários instrumentos para quem quisesse ouvir.

No domingo à tarde, enquanto esperava em uma fila quilométrica para entrar no Museu del Prado, pude ouvir inclusive “Garota de Ipanema”, tocada por um saxofonista que estava sentado em um ponto estratégico dos jardins do museu. Confesso que meu dia ficou muito mais alegre.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Una vela sin fuego ni cera

Na Espanha ninguém pode reclamar que a igreja católica não se moderniza. Tá certo que não é exatamente a modernidade que muita gente espera, já que se formos avaliar os comentários públicos dos bispos daqui, acho que são muito mais conservadores do que os brasileiros.

Digamos que aqui eles são mais práticos, então. Cheguei a essa conclusão depois de visitar algumas igrejas históricas de Madrid, no último final de semana, e descobrir que é impossível acender uma velinha sequer para o seu santo de devoção. Os espanhóis trocaram a cera, o pavio e fogo pelo plástico e pela eletricidade.

Nos pés dos santos, as velas elétricas são a única maneira de fazer uma homenagem, um pedido ou agradecimento ao protetor. Não encontrei ninguém que conseguisse me dar uma explicação para tal mudança, que na minha opinião é bastante esquisita e tira o sentido da tradição. Mas levando em consideração que o fiel deve pagar 0,20 euros (R$ 0,54) para ter sua eletro-vela acendida, acho que o método é mais rentável para a igreja do que comprar caixas e caixas da “antiga” vela.

E até a maneira de pagar o que eles chamam de oferenda é moderna. O velário elétrico é dotado de um sistema de cobrança automático, onde só é preciso colocar uma moeda na maquininha, sem complicações.

Não sei como é no resto da Europa, mas já me informei que a eletro-vela é adotada em muitas partes da Espanha e de Portugal. Vai entender!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Tapeando en la noche madrileña

No último fim de semana pude conhecer uma das noites mais badaladas da Europa, a de Madrid, e me encantar ainda mais com alguns costumes espanhóis. Descobri que tapear por aqui não tem nada a ver com enganar alguém.

Uma das características famosas da culinária espanhola são as “tapas”, que eu traduziria como o nosso tira-gosto aí do Brasil. E um dos costumes dos jovens é sair pela noite, passando de bar em bar, tomando uma “caña” (chope) e comendo uma tapa. Isso é o que eles chamam de tapear e é comum também em Valencia, onde moro (ainda que aqui não tinha escutado a expressão).

Mas o mais bacana de Madrid é que a cada rodada de bebida o bar coloca também uma tapa na mesa, por conta da casa. Os mais animados aproveitam para trocar de lugar o tempo todo e experimentam diferentes tapas. Numa noite pode-se comer tortilha de batata, batatas fritas, canapés, lingüiça, e mais um monte de coisa.

Os pubs e algumas boates também têm uma vantagem: a maioria deles não cobram entrada. O lance é escolher a região por onde que sair e ir passando de boate em boate e dançar um pouco de cada estilo musical. Esses lugares gratuitos não ficam exageradamente lotados e com ambiente ruim, como eu pensaria caso não tivesse ido a pelo menos quatro em um só dia.

O problema é que a maioria fecha às 3h30 da manhã. A casa pode estar lotada, que ele apagam as luzes e desligam o som. Os mais animados têm que continuar a noite nas boates pagas, que enchem nesse horário.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ibiza: un paraíso salado


Ibiza dispensa qualquer tipo de comentário. O mar extremamente claro e azul, as badaladas festas e o circuito gay já são mais do que famosos em qualquer canto do planeta. Os brasileiros, inclusive, invadem a ilha no verão, seja trabalhando nos bares e boates ou como turistas mesmo, no caso dos mais afortunados.

Mas uma coisa que chamou minha atenção quando estive lá, no final do ano passado, é a qualidade da água usada pelos ibizencos. Não se assuste se na hora de escovar os dentes tiver a impressão que a água que sai da torneira veio diretamente do mar. Também não adianta reclamar se, pouco depois de tomar banho, sentir que uns cristaizinhos de sal começaram a se formar na sua pele.

Com pouca opção de água doce e considerando o custo de transportar o insumo do continente para a ilha, a solução encontrada foi dessalinizar a água do mar. O processo é usado também em outras partes da Espanha, inclusive aqui em Valencia. A diferença é que na península eles misturam 2/3 de água doce com a “reciclada”, o que garante um resultado melhor. Mas em Ibiza, o que chega na torneira, na minha opinião, é praticamente água do mar.

Dizem que não faz mal se tomada, mas o gosto é horrível. As pessoas usam normalmente para cozinhar e com certeza devem economizar muito no sal. Para beber só tomando água mineral, que é bem barato por aqui.

Obs. Foto minha da pedra Es Vedra. Reparem como a lancha ficou parecendo ser pequena.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

No te imaginas lo parecido que somos

Já estou traumatizado e evito qualquer comentário anterior quando alguém me convida para comer algum prato da culinária latina, seja do país que for. Eu tive que sair daí do Brasil para vir descobrir aqui na Europa o tanto de coisas que temos em comum com os demais latino-americanos.

Ontem, no jantar de aniversário da Daniela (post anterior), tive uma das maiores decepções culinárias da minha vida. Depois de 24 anos de vida fui descobrir que o pão de queijo, orgulho de qualquer mineiro, não é exclusividade das montanhas do meu estado.

Já sabia que ele é copiado em todos as partes do Brasil (confesso que sempre gostei muito disso), mas ontem descobri que nosso famoso quitute é também muito típico da Colômbia, onde recebe o carinhoso nome de pan de bono.

É igualzinho ao nosso. E vai ser gostoso assim lá na China, quero dizer, na Colômbia. Mineiro ou nao, aproveitei. Mas deixei espaço também para comer umas “empanadas de harina de maíz”, ou pastel de angu, para os mais íntimos. Isso mesmo, até o nosso querido pastel de angu tem sua versao colombiana.

Pelo menos não serviram Guaraná. Bom, claro que gostaria ter tomado guaraná, mas não suportaria a dor de descobrir que ele também não é exclusividade nossa.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Una conmemoración especial

Hoje eu participei de uma festa de aniversário bastante diferente. A principal personagem da comemoração, a aniversariante, não estava. Parece estranho? Sim, mas foi a maneira que uma mãe achou para sentir-se mais próxima de sua filha, que está a milhares de quilômetros de distancia daqui, em Bogotá, na Colômbia.

Cláudia (foto), a mãe, já mora na Espanha desde 2006 e esse foi o segundo ano consecutivo em que ela não pôde cantar os parabéns para sua filha Daniela Alejandra, que apagou sua 13ª velinha.

Sair dos nossos países em buscas dos sonhos muitas vezes implica enfrentar situações como a que presenciei hoje. Um imigrante, porque é isso que passamos a ser quando deixamos nossas casas, nunca esquece os vínculos que deixou para trás. Imagino que para uma mãe a situação deve ser ainda pior. Impossível não se emocionar ao ver os olhos marejados de Cláudia falando do amor pela filha.

Ela é apenas mais uma das milhares de mulheres que imigram para os países europeus todos os anos, em busca de melhores condições de vida para suas famílias. Muitas delas se vêem obrigadas a deixar para trás os próprios filhos e cuidarem dos filhos de outras mulheres quando chegam aqui. E ainda têm de enfrentar o preconceito dos europeus, que no fundo sabem que dependem dos trabalhadores imigrantes.

Curiosidade: 60% dos cerca de 100 mil brasileiros que vivem aqui são mulheres, segundo dados estatísticos do governo da Espanha.

¡Feliz Cumpleaños Dani! E parabéns a todas as corajosas que lutam para mudar um pouco a cara desse nosso mundo desigual.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

¡Como echo de menos a los carnavales!

Contar para alguém que você é brasileiro aqui na Espanha é quase certeza de receber como resposta uma pergunta sobre o carnaval, principalmente o do Rio de Janeiro. Muita gente já começa a ver o Brasil com outros olhos, principalmente pelo crescimento da nossa economia, mas carnaval e futebol ainda são nossos principais produtos aqui fora.

E nessa época, em que as imagens das mulheres peladas chegam a bombardeio nas televisões daqui, a curiosidade dos europeus aumenta ainda mais.

Aqui também tem carnaval, mas não com a mesma popularidade do nosso. Os mais famosos são os de Cádiz, no sul do país, região da Andaluzia, e o das Ilhas Canárias, que pertencem à Espanha, mas estão no Atlântico, geograficamente mais próximos da África. Alí tem festa de rua, como no Brasil.

Na maioria das outras cidades acontecem principalmente festas em clubes, com gente fantasiada e sem samba. A tradicional festa pagã chegou a ser proibida aqui, durante a ditadura de Franco, entre 1939 e 1975.

Para não perder a tradição, eu festejei o carnaval com uma turma de brasileiros que moram aqui. Fomos para o apartamento de umas pernambucanas, sambamos, cantamos, tudo o que tinha direito. Mas a festa teve que acabar mais cedo, por volta das 3h30, com a chegada da polícia, avisando que não tínhamos tanto direito assim.

Na foto, Rodrigo e Verônica, dando um showzinho..

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

San Valentín: el día del amor y de la amistad

Coraçõezinhos nas vitrines das lojas, cupidos por todos os lados e festas (ou jantares) bem especiais. É quase impossível não entrar no clima do Dia de São Valentim, que celebramos hoje aqui na Espanha e em um monte de outros países do mundo, como Japão, China, Estados Unidos, México, Guatemala.

E quando digo quase impossível, não exagero. Mais do que o “Día de los enamorados”, é uma data para celebrar o amor e a amizade. É ótimo, porque quem está solteiro ou jogado às traças, como eu, não precisa morrer de depressão pensando que não vai ganhar presente ou ir ao cinema com a pessoa amada. Os amigos e familiares também trocam presentes, flores e chocolates.

Alguns grupos fazem até amigo-oculto. Aqui na residência organizamos um e hoje pela noite será a entrega dos presentes. Mas o mais bacana é que, desde o dia em que sorteamos os nomes, as pessoas deixam em uma caixa alguma lembrancinha com um bilhete para o seu “amigo invisible”, como chama o jogo por aqui.

Ontem meu amig@ me deixou nada menos do que quatro presentes. Todos coisas gostosas para comer, típicas daqui. Todos os dias recebo também e-mails anônimos com dicas para descobrir quem é a pessoa. É bastante legal. Agora é aguardar a festa para saber o que vou ganhar. Depois conto para vocês.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Mi cocinera y mi plato preferidos


Se existe uma pessoa engraçada e louca neste mundo, ela atende pelo nome de Nina e é espanhola. Mais precisamente, trabalha de cozinheira nos finais de semana, aqui na residência universitária onde moro.

É uma mãezona, mas do tipo moderna, que fica nas festas com a gente até de madrugada, nos ajuda a roubar coisas gostosas no armazém para levar as nossas casas, faz sanduíches para mim quando tenho que sair correndo antes de o jantar ficar pronto. Enfim, uma pessoa bastante especial.

E para compensar tudo o que faz pela gente, quase sempre estamos ali na cozinha, lhe ajudando a preparar alguma coisa. Acho que na verdade é mais para aproveitar da sua companhia que para ajudar, precisamente.

Hoje ela estava fazendo tortilla de batata. E lá estava eu, quebrando nada menos que 180 ovos para preparar o prato. Todo mundo já sabe que eu sou louco por tortilla e meus amigos mais próximos e minha família já até tiveram a oportunidade de experimentá-la na minha casa. Mas nunca tinha visto nada parecido a uma preparada com nada menos que uns 12 kg de batata e outros 8 de cebola. Bom, na verdade nunca cozinhei para 70 pessoas.

Ficou uma delícia, mas não tentem fazer em casa, não nessas proporções.

Obs.: Na foto Nina e eu estamos batendo os 180 ovos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Un juguete nuevo


Já tenho uma câmera digital nova. As fotos daqui do blog não serão mais “chupadas” de outros sites. Bom, pelo menos as que eu conseguir fazer. Cheguei aqui com uma câmera que já tinha, mas a qualidade das fotos não era tão boa. E se quisesse fotografar a noite então, nem pensar.

Aproveitei essa época de “rebajas” (leia tópico abaixo) para fazer um investimento. Claro que minhas atuais condições financeiras não me permitiram uma câmera profissional, que era meu sonho. Comprei uma Sony DSC-T2, que foi a que mais me chamou a atenção, principalmente pelo custo benefício.

Tem 8.1 megapixels e um monte de funções que ainda não sei usar. A tela de visualização é táctil e todas as funções são manejadas tocando essa mesma tela. Chique né? Ficou igual retardado brincando com ela.

Em breve fotos minhas por aqui.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

¿Cuánto vale un zumo?


Matar a saudade dos sabores aí do Brasil pode ser uma brincadeirinha bem cara. Mas ontem eu não resisti. Passando pelo centro de Valencia, dei de cara com um cartaz muito familiar na porta de um café. Eram sucos brasileiros, de todos os tipos. Tinha limão, maracujá, graviola, manga, goiaba, acerola, pitanga e alguns outros que não me lembro agora. Pena que não tinha uma câmera para fazer a foto.

Sentei na mesma hora. Não pensei duas vezes e pedi um de graviola, que por aqui ganha o singelo nome de guanábana. Na empolgação, nem perguntei o preço e ainda ofereci um para um amigo que estava comigo. Na hora de pagar, nada menos que 4 euros (mais de R$10) cada um.

Há tempos não tomava um suco tão bom (e nem tão caro). As frutas daqui da Espanha não têm a mesma qualidade que as nossas. O abacaxi tem gosto de podre. Maracujá, quando encontra, custa tipo 3,50 euros cada um (não é o quilo não, é cada um mesmo). As outras não são nada fáceis de serem encontradas, a não ser o típico, como maçã, banana e laranja.

Os sucos de caixa também não são nada bons. Acho que eles quase não usam frutas para fazer aquilo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Perdido en España



Diz o ditado que mineiro não perde o trem. Mas ninguém falou nada sobre confundir-se e pegar o trem errado. Eu, como bom mineiro, faço de tudo para chegar na hora certa e, na pressa, acabo cometendo alguns erros. O último me colocou numa situação bastante engraçada (para não falar ridícula).

Tive que viajar, na segunda passada, para Castellón, uma cidade a menos de 70 quilômetros daqui de Valencia (cerca de uma hora de trem). Fui participar de um congresso de Direitos Humanos, na Universidad Jaume I e teria que chegar às 10 horas ao meu destino.

Saí de casa ainda de madrugada, às 8h05 da manhã. Sim, era de madrugada, já que o sol ainda não tinha nascido. Para mim, se não há sol, não amanheceu. E aqui, nesta época do ano, o astro-rei só das as caras lá pelas 8h30. Antes disso está tudo escuro.

Mas voltando ao caso, me encontrei com a Júlia, também brasileira, no metrô e fomos para a estação Valencia-Nord, do trem. Ali pegaríamos embarcaríamos às 8h50 para Castellón.

Como tínhamos tempo, aproveitamos para tomar café lá na estação. E quando eu ainda estava terminando de comer meu “bocadillho de totilla de patata”, escutamos a chamada anunciando a partida do próximo trem.

Não sei onde estávamos com a cabeça, mas fomos para o local de embarque e entramos no primeiro vagão que vimos. Até agora me pergunto o que ou em quem estava pensando naquele momento, que não olhei nome, destino, nada.

Na primeira parada depois de Valencia escuto pelos auto-falantes: Alfafar. Parei, refleti e comentei com minha amiga: Alfafar está ao Sul de Valencia e não ao norte, que é para onde teríamos que estar indo. Ela não acreditou em mim. Fiquei com a pulga atrás da orelha.

Na parada seguinte vi na plaquinha a seta indicando o destino Gandia, cidade que tenho certeza absoluta que está no sentido contrário de Castellón, por já passei por lá. Deu crise de riso. Olhava para Júlia e não fazia outra coisa senão rir. Ela também começou a rir e a perguntar o que íamos fazer.

Como se não bastasse a lerdeza, com a crise de riso deixamos passar uma estação mais e só fomos descer na seguinte, em Cilla, mesmo assim depois de confirmar com um cara que estava no trem se realmente estávamos no lugar errado.

Descemos, esperamos uns 20 minutos, voltamos para Valencia, esperamos não sei quantos mais, e fomos para Castellón. Chegamos 2 horas e meia atrasados. Menos mal que não passou nenhum fiscal, porque não compramos outro bilhete para refazer os trajetos.

No dia seguinte, segundo dia de congresso, estávamos Júlia, Adelson (outro brasileiro) e eu, no mesmo bat-horário, no mesmo bat-local. Com uma certeza absoluta que desta vez faríamos tudo certinho.

Prestamos atenção no número da via, local de embarque, tudo. Entramos. Pouco tempo depois entraram, no mesmo vagão, três outras três conhecidas nossas, todas espanholas. Conversamos um pouco e eu acabei dormindo, estava morto.

No meio do meu sono, com um cachecol enrolado no rosto para tapar o olho, alguém me desperta e pergunta para onde vou. Era a fiscal, que confere os bilhetes. Respondi que iria para Castellón e não podia acreditar quando me disse que aquele trem não ia para este destino. Parecia brincadeira. Eu perguntei pelo menos umas três vezes se ela não estava brincando comigo. E não estava.

Tínhamos pegado no trem errado uma vez mais. O nosso estava na mesma via, mas atrás do que entramos. Pelo menos estávamos na mesma direção e tivemos apenas que descer e tomar o seguinte, que completaria o caminho.
(Fotos da estaçao aqui de Valencia, por dentro e por fora.)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Me han pinchado

Morro de medo de injeção. Quer me deixar nervoso é só vir com aquela agulhinha pro meu lado, mandando abaixar a calça. Até que quando aplicam na veia não tem tanto problema. Mas na bunda não, por favor. E Deus não ouviu minhas preces.

Hoje é o segundo dia consecutivo que me aplicam um voltarem adivinham onde? Pois é, lá mesmo. Tudo por causa de uma dor na coluna que não me deixa ser feliz.

As pessoas não aprendem como se comportar ao carregar peso, isso é que dá. No domingo já estava assim meio torto. Ainda assim saí, fui para um museu de arte com um amigo e andei igual canela de cachorro. Resultado: não conseguia caminhar ontem.

A sorte é que aqui na residência universitária tem pelo menos uns 10 médicos. Não precisei ir a hospital nem nada. Por aqui mesmo me examinaram e resolveram o problema.

Já estou inteiro.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

El niño ha fallecido

Pouco depois do post abaixo, procurei alguma notícia na internet e descobri que o menino havia morrido.
Abaixo, o link para a página no jornal. Na foto, do mesmo site, aparecem as duas tias do garoto.

Inolvidable

Meu dia hoje foi marcado por uma das cenas mais fortes que jamais presenciei. E olha que já passei por situações criticas em minha curta carreira de repórter, como bandidos com reféns, assassinatos bárbaros e até um suicídio na minha frente. Mas mesmo acostumado a relatar tragédias, me faltam palavras para descrever o que vi nesta tarde. Um menino, quase um bebê, de no máximo dois aninhos de idade, morrendo no meio da rua depois de se engasgar com três balas que acabava de ganhar da sua mãe.

Foi no centro da cidade, por volta das 14h30. Eu estava passando quando vi que começava a formar-se uma aglomeração de pessoas no meio de um quarteirão fechado. Até pensei que fosse promoção em alguma loja, já que estamos em época de queima de estoque por aqui. Mas ao me aproximar vi o desespero de três mulheres sacudindo com força uma criança já inconsciente.

Eram três imigrantes equatorianas que passeavam com os filhos pela rua. A loja onde compraram as balas estava bem em frente de onde o menino se engasgou. Não deve ter passado nem cinco minutos entre a compra dos doces e o fato.

Algumas pessoas tentavam ajudar, uma mulher apertou o garoto, que chegou a vomitar um dos doces, mas nada parecia resolver. Ele não recobrava sua consciência e ficava cada vez mais roxo e mole.

A sensação foi terrível, eu não sabia o que fazer, como ajudar. Chamaram a polícia que estava perto, que por sua vez ligou para o Samu. Não demoraram muito, mas a chegada dos paramédicos não colocou fim àquela angústia.

O garoto foi imediatamente levado para dentro da ambulância, onde estiveram por mais de uma hora tentando reanimá-lo. Do lado de fora, as mulheres se desesperavam e uma deles, provavelmente uma tia, chegou a desmaiar e foi socorrida por outra ambulância.

Pelo que pude entender, fizeram uma traqueotomia no garoto ali mesmo, na ambulância. Em poucos minutos ele estava todo entubado e daí em diante não consegui ver, porque as portas do veículo ficaram fechadas.

Não entendi a razão, mas estiveram quase uma hora e meia ali, sem levá-lo a um hospital. Depois perguntei a uma amiga médica, que também mora aqui na residência universitária, e ela me explicou que pode ser mais perigoso remover o paciente nesta situação do que tentar socorrê-lo no próprio local.

No final, quando a ambulância saiu, não pude perceber se tinham conseguido salvá-lo ou se infelizmente o menino morreu. Queria perguntar, entrar no meio, questionar, mas sem um santo crachá de repórter no pescoço, não adianta muito. Principalmente em se tratando da polícia daqui.

Quase tão triste quanto ao que aconteceu com essa família, foram os comentários que escutei durante o tempo em que estive ali, ao lado da ambulância, esperando que a situação se resolvesse. Não foi apenas de uma boca que ouvi “aahh, são equatorianos”, em um tom bastante pejorativo, depois que a mesma pessoa perguntava o que tinha acontecido. A impressão que dava é que não havia com o que se preocupar, já que eram imigrantes. Cláudia, uma colombiana que estuda comigo, chegou a responder a uma mulher, dizendo o típico “são equatorianos, mas são gente”.

Uma mulher perguntou a mim o que havia passado e quando respondi que uma criança tinha se engasgado com balas ela não demorou em responder: “tanto alvoroço por isso?”. Eu não consegui nem contestar e outra espanhola ao meu lado entrou na conversa, em vão.

Outra senhora passou e comentou que “essas equatorianas ficam vendendo coisas na rua e se esquecem dos filhos”. Deu vontade de bater com a cabeça dela na parede, de verdade. Ela não sabia nem o que se estava passando e me sai com um comentário desses. As mulheres não estavam vendendo nada, foi uma fatalidade. Queria ver se fosse o filho dela, se faria o mesmo comentário.

Bom, depois da aula de xenofobia que tive, continuo aqui, pensando o que terá acontecido com o “nino”. Para minha amiga médica, é difícil que ele tenha se salvado, pelas características que contei, como o tempo gasto tentando reanimá-lo.

Espero que ela esteja errada.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Empiezan las rebajas de enero

Eu pensava que era mania de brasileiro comprar o que precisa e o que não precisa durantes grandes promoções e queimas de estoque. Acabei de descobrindo que os espanhóis também adoram uma boa “baciada”.

Começaram hoje aqui o que eles chamam de “rebajas”, promoções dos estoques de fim de ano que vão até o final do mês. O mais bacana é que não é uma ou outra loja que baixam seus preços, senão praticamente todas, em todo o país.

Nos jornais, TV e comentários na rua, só se fala em rebajas, o que você comprou ou vai comprar, etc. Eu não podia perder e fui no primeiro dia, logo de manhã. O shopping estava abarrotado, espirrando gente pela portas.
Nos jornais, li declarações do secretário-geral da Confederação Espanhola de Comércio, Miguel Ángel Fraile, estimando que cada espanhol deverá gastar em média 260 euros neste período. E isso porque estão comentando que neste ano a expectativa é menor do que nos anteriores, já que a inflação por aqui deu uma subida e a expectativa de crescimento econômico do país caiu.
Imagina se gastassem muito?

Bom.. eu não sou espanhol e não cheguei aos 260 euros. Sai com as pernas doendo de tanto caminhar, mas feliz com uma calça jeans “super chula”, que me custou 20 euros e uma jaqueta de inverno (estava mais do que precisando) por 30 euros.

Mas ainda vou voltar, porque preciso de algumas coisinhas.

domingo, 6 de janeiro de 2008

¿Qué has pedido a los reyes?


Muito mais comum do que fazer pedidos e mandar cartinhas ao Papai Noel, aqui na Espanha, nessa época do ano, quem comanda mesmo a festa são os Reis Magos. É hoje, dia em que se comemora a visita de Melquior, Gaspar e Baltasar ao Menino Jesus, que a maioria das crianças (e adultos, claro) ganham seus presentes de fim de ano.

É certo também que de uns tempos para cá o “bom velhinho”, invenção dos estadunidenses, tem dado as caras por aqui. Mas nada comparado à festa que fazem para as majestades do oriente.

Nos shoppings, são eles que ouvem os pedidos de meninos e meninas. As cartinhas não vão para o Pólo Norte e sim para o Oriente Médio. Na madrugada de ontem, milhares de “niños” colocaram seus sapatinhos nas janelas e alguns, inclusive, deixaram água e grama para os camelos reais.

Ontem, dia da Cavalgada dos Reis, Melquior, Gaspar e Baltasar desfilaram pela maioria das cidades espanholas. Em carroças caracterizadas e acompanhados de seus pajens, artistas circenses, duendes e magos, eles passavam pelas ruas distribuindo balas e presentes. Em cada região eles chegaram de uma maneira – navios, helicópteros e cavalos.

Aqui em Valência o desfile principal, pelo centro da cidade, contou com 45 carroças e mais de 2.200 figurantes, de acordo com a prefeitura. Mas outros menores também aconteceram pelos bairros. Eu, claro, não podia deixar de participar de um deles e escolhi um bem especial, em um bairro carente próximo de onde vivo.

Meus colegas de alojamento foram os que se vestiram de reis. Como cheguei digamos, um pouquinho atrasado, acabei ficando sem fantasia. Mas ajudei na organização e a distribuir os presentes para a meninada.

Foi uma festa. Durante o desfile pela rua, centenas de presentes foram jogados de um caminhão. É certo que a criançada se esbofeteava para pegar o seu, mas expertos como são, encheram sacolas de supermercados de joguinhos, bolas, bonecos, carrinhos, lápis, réguas e tudo mais. Não vi ninguém sair sem no mínimo dois ou três presentes.

Mais tarde, na escola, já um pouco mais organizado, eles faziam fila para falar com os reis e ganharem mais presentes. Desta vez brinquedos melhores, de qualidade. E todos ganharam. Na porta, churros e refrigerante para todos.

Foi um dia especial. Mas na verdade, eu mesmo acabei ficando sem presente. Alguém me manda algum?
(Na foto, a cavalgada no centro de Valência)