segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

¿Cuánto vale un zumo?


Matar a saudade dos sabores aí do Brasil pode ser uma brincadeirinha bem cara. Mas ontem eu não resisti. Passando pelo centro de Valencia, dei de cara com um cartaz muito familiar na porta de um café. Eram sucos brasileiros, de todos os tipos. Tinha limão, maracujá, graviola, manga, goiaba, acerola, pitanga e alguns outros que não me lembro agora. Pena que não tinha uma câmera para fazer a foto.

Sentei na mesma hora. Não pensei duas vezes e pedi um de graviola, que por aqui ganha o singelo nome de guanábana. Na empolgação, nem perguntei o preço e ainda ofereci um para um amigo que estava comigo. Na hora de pagar, nada menos que 4 euros (mais de R$10) cada um.

Há tempos não tomava um suco tão bom (e nem tão caro). As frutas daqui da Espanha não têm a mesma qualidade que as nossas. O abacaxi tem gosto de podre. Maracujá, quando encontra, custa tipo 3,50 euros cada um (não é o quilo não, é cada um mesmo). As outras não são nada fáceis de serem encontradas, a não ser o típico, como maçã, banana e laranja.

Os sucos de caixa também não são nada bons. Acho que eles quase não usam frutas para fazer aquilo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Perdido en España



Diz o ditado que mineiro não perde o trem. Mas ninguém falou nada sobre confundir-se e pegar o trem errado. Eu, como bom mineiro, faço de tudo para chegar na hora certa e, na pressa, acabo cometendo alguns erros. O último me colocou numa situação bastante engraçada (para não falar ridícula).

Tive que viajar, na segunda passada, para Castellón, uma cidade a menos de 70 quilômetros daqui de Valencia (cerca de uma hora de trem). Fui participar de um congresso de Direitos Humanos, na Universidad Jaume I e teria que chegar às 10 horas ao meu destino.

Saí de casa ainda de madrugada, às 8h05 da manhã. Sim, era de madrugada, já que o sol ainda não tinha nascido. Para mim, se não há sol, não amanheceu. E aqui, nesta época do ano, o astro-rei só das as caras lá pelas 8h30. Antes disso está tudo escuro.

Mas voltando ao caso, me encontrei com a Júlia, também brasileira, no metrô e fomos para a estação Valencia-Nord, do trem. Ali pegaríamos embarcaríamos às 8h50 para Castellón.

Como tínhamos tempo, aproveitamos para tomar café lá na estação. E quando eu ainda estava terminando de comer meu “bocadillho de totilla de patata”, escutamos a chamada anunciando a partida do próximo trem.

Não sei onde estávamos com a cabeça, mas fomos para o local de embarque e entramos no primeiro vagão que vimos. Até agora me pergunto o que ou em quem estava pensando naquele momento, que não olhei nome, destino, nada.

Na primeira parada depois de Valencia escuto pelos auto-falantes: Alfafar. Parei, refleti e comentei com minha amiga: Alfafar está ao Sul de Valencia e não ao norte, que é para onde teríamos que estar indo. Ela não acreditou em mim. Fiquei com a pulga atrás da orelha.

Na parada seguinte vi na plaquinha a seta indicando o destino Gandia, cidade que tenho certeza absoluta que está no sentido contrário de Castellón, por já passei por lá. Deu crise de riso. Olhava para Júlia e não fazia outra coisa senão rir. Ela também começou a rir e a perguntar o que íamos fazer.

Como se não bastasse a lerdeza, com a crise de riso deixamos passar uma estação mais e só fomos descer na seguinte, em Cilla, mesmo assim depois de confirmar com um cara que estava no trem se realmente estávamos no lugar errado.

Descemos, esperamos uns 20 minutos, voltamos para Valencia, esperamos não sei quantos mais, e fomos para Castellón. Chegamos 2 horas e meia atrasados. Menos mal que não passou nenhum fiscal, porque não compramos outro bilhete para refazer os trajetos.

No dia seguinte, segundo dia de congresso, estávamos Júlia, Adelson (outro brasileiro) e eu, no mesmo bat-horário, no mesmo bat-local. Com uma certeza absoluta que desta vez faríamos tudo certinho.

Prestamos atenção no número da via, local de embarque, tudo. Entramos. Pouco tempo depois entraram, no mesmo vagão, três outras três conhecidas nossas, todas espanholas. Conversamos um pouco e eu acabei dormindo, estava morto.

No meio do meu sono, com um cachecol enrolado no rosto para tapar o olho, alguém me desperta e pergunta para onde vou. Era a fiscal, que confere os bilhetes. Respondi que iria para Castellón e não podia acreditar quando me disse que aquele trem não ia para este destino. Parecia brincadeira. Eu perguntei pelo menos umas três vezes se ela não estava brincando comigo. E não estava.

Tínhamos pegado no trem errado uma vez mais. O nosso estava na mesma via, mas atrás do que entramos. Pelo menos estávamos na mesma direção e tivemos apenas que descer e tomar o seguinte, que completaria o caminho.
(Fotos da estaçao aqui de Valencia, por dentro e por fora.)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Me han pinchado

Morro de medo de injeção. Quer me deixar nervoso é só vir com aquela agulhinha pro meu lado, mandando abaixar a calça. Até que quando aplicam na veia não tem tanto problema. Mas na bunda não, por favor. E Deus não ouviu minhas preces.

Hoje é o segundo dia consecutivo que me aplicam um voltarem adivinham onde? Pois é, lá mesmo. Tudo por causa de uma dor na coluna que não me deixa ser feliz.

As pessoas não aprendem como se comportar ao carregar peso, isso é que dá. No domingo já estava assim meio torto. Ainda assim saí, fui para um museu de arte com um amigo e andei igual canela de cachorro. Resultado: não conseguia caminhar ontem.

A sorte é que aqui na residência universitária tem pelo menos uns 10 médicos. Não precisei ir a hospital nem nada. Por aqui mesmo me examinaram e resolveram o problema.

Já estou inteiro.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

El niño ha fallecido

Pouco depois do post abaixo, procurei alguma notícia na internet e descobri que o menino havia morrido.
Abaixo, o link para a página no jornal. Na foto, do mesmo site, aparecem as duas tias do garoto.

Inolvidable

Meu dia hoje foi marcado por uma das cenas mais fortes que jamais presenciei. E olha que já passei por situações criticas em minha curta carreira de repórter, como bandidos com reféns, assassinatos bárbaros e até um suicídio na minha frente. Mas mesmo acostumado a relatar tragédias, me faltam palavras para descrever o que vi nesta tarde. Um menino, quase um bebê, de no máximo dois aninhos de idade, morrendo no meio da rua depois de se engasgar com três balas que acabava de ganhar da sua mãe.

Foi no centro da cidade, por volta das 14h30. Eu estava passando quando vi que começava a formar-se uma aglomeração de pessoas no meio de um quarteirão fechado. Até pensei que fosse promoção em alguma loja, já que estamos em época de queima de estoque por aqui. Mas ao me aproximar vi o desespero de três mulheres sacudindo com força uma criança já inconsciente.

Eram três imigrantes equatorianas que passeavam com os filhos pela rua. A loja onde compraram as balas estava bem em frente de onde o menino se engasgou. Não deve ter passado nem cinco minutos entre a compra dos doces e o fato.

Algumas pessoas tentavam ajudar, uma mulher apertou o garoto, que chegou a vomitar um dos doces, mas nada parecia resolver. Ele não recobrava sua consciência e ficava cada vez mais roxo e mole.

A sensação foi terrível, eu não sabia o que fazer, como ajudar. Chamaram a polícia que estava perto, que por sua vez ligou para o Samu. Não demoraram muito, mas a chegada dos paramédicos não colocou fim àquela angústia.

O garoto foi imediatamente levado para dentro da ambulância, onde estiveram por mais de uma hora tentando reanimá-lo. Do lado de fora, as mulheres se desesperavam e uma deles, provavelmente uma tia, chegou a desmaiar e foi socorrida por outra ambulância.

Pelo que pude entender, fizeram uma traqueotomia no garoto ali mesmo, na ambulância. Em poucos minutos ele estava todo entubado e daí em diante não consegui ver, porque as portas do veículo ficaram fechadas.

Não entendi a razão, mas estiveram quase uma hora e meia ali, sem levá-lo a um hospital. Depois perguntei a uma amiga médica, que também mora aqui na residência universitária, e ela me explicou que pode ser mais perigoso remover o paciente nesta situação do que tentar socorrê-lo no próprio local.

No final, quando a ambulância saiu, não pude perceber se tinham conseguido salvá-lo ou se infelizmente o menino morreu. Queria perguntar, entrar no meio, questionar, mas sem um santo crachá de repórter no pescoço, não adianta muito. Principalmente em se tratando da polícia daqui.

Quase tão triste quanto ao que aconteceu com essa família, foram os comentários que escutei durante o tempo em que estive ali, ao lado da ambulância, esperando que a situação se resolvesse. Não foi apenas de uma boca que ouvi “aahh, são equatorianos”, em um tom bastante pejorativo, depois que a mesma pessoa perguntava o que tinha acontecido. A impressão que dava é que não havia com o que se preocupar, já que eram imigrantes. Cláudia, uma colombiana que estuda comigo, chegou a responder a uma mulher, dizendo o típico “são equatorianos, mas são gente”.

Uma mulher perguntou a mim o que havia passado e quando respondi que uma criança tinha se engasgado com balas ela não demorou em responder: “tanto alvoroço por isso?”. Eu não consegui nem contestar e outra espanhola ao meu lado entrou na conversa, em vão.

Outra senhora passou e comentou que “essas equatorianas ficam vendendo coisas na rua e se esquecem dos filhos”. Deu vontade de bater com a cabeça dela na parede, de verdade. Ela não sabia nem o que se estava passando e me sai com um comentário desses. As mulheres não estavam vendendo nada, foi uma fatalidade. Queria ver se fosse o filho dela, se faria o mesmo comentário.

Bom, depois da aula de xenofobia que tive, continuo aqui, pensando o que terá acontecido com o “nino”. Para minha amiga médica, é difícil que ele tenha se salvado, pelas características que contei, como o tempo gasto tentando reanimá-lo.

Espero que ela esteja errada.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Empiezan las rebajas de enero

Eu pensava que era mania de brasileiro comprar o que precisa e o que não precisa durantes grandes promoções e queimas de estoque. Acabei de descobrindo que os espanhóis também adoram uma boa “baciada”.

Começaram hoje aqui o que eles chamam de “rebajas”, promoções dos estoques de fim de ano que vão até o final do mês. O mais bacana é que não é uma ou outra loja que baixam seus preços, senão praticamente todas, em todo o país.

Nos jornais, TV e comentários na rua, só se fala em rebajas, o que você comprou ou vai comprar, etc. Eu não podia perder e fui no primeiro dia, logo de manhã. O shopping estava abarrotado, espirrando gente pela portas.
Nos jornais, li declarações do secretário-geral da Confederação Espanhola de Comércio, Miguel Ángel Fraile, estimando que cada espanhol deverá gastar em média 260 euros neste período. E isso porque estão comentando que neste ano a expectativa é menor do que nos anteriores, já que a inflação por aqui deu uma subida e a expectativa de crescimento econômico do país caiu.
Imagina se gastassem muito?

Bom.. eu não sou espanhol e não cheguei aos 260 euros. Sai com as pernas doendo de tanto caminhar, mas feliz com uma calça jeans “super chula”, que me custou 20 euros e uma jaqueta de inverno (estava mais do que precisando) por 30 euros.

Mas ainda vou voltar, porque preciso de algumas coisinhas.

domingo, 6 de janeiro de 2008

¿Qué has pedido a los reyes?


Muito mais comum do que fazer pedidos e mandar cartinhas ao Papai Noel, aqui na Espanha, nessa época do ano, quem comanda mesmo a festa são os Reis Magos. É hoje, dia em que se comemora a visita de Melquior, Gaspar e Baltasar ao Menino Jesus, que a maioria das crianças (e adultos, claro) ganham seus presentes de fim de ano.

É certo também que de uns tempos para cá o “bom velhinho”, invenção dos estadunidenses, tem dado as caras por aqui. Mas nada comparado à festa que fazem para as majestades do oriente.

Nos shoppings, são eles que ouvem os pedidos de meninos e meninas. As cartinhas não vão para o Pólo Norte e sim para o Oriente Médio. Na madrugada de ontem, milhares de “niños” colocaram seus sapatinhos nas janelas e alguns, inclusive, deixaram água e grama para os camelos reais.

Ontem, dia da Cavalgada dos Reis, Melquior, Gaspar e Baltasar desfilaram pela maioria das cidades espanholas. Em carroças caracterizadas e acompanhados de seus pajens, artistas circenses, duendes e magos, eles passavam pelas ruas distribuindo balas e presentes. Em cada região eles chegaram de uma maneira – navios, helicópteros e cavalos.

Aqui em Valência o desfile principal, pelo centro da cidade, contou com 45 carroças e mais de 2.200 figurantes, de acordo com a prefeitura. Mas outros menores também aconteceram pelos bairros. Eu, claro, não podia deixar de participar de um deles e escolhi um bem especial, em um bairro carente próximo de onde vivo.

Meus colegas de alojamento foram os que se vestiram de reis. Como cheguei digamos, um pouquinho atrasado, acabei ficando sem fantasia. Mas ajudei na organização e a distribuir os presentes para a meninada.

Foi uma festa. Durante o desfile pela rua, centenas de presentes foram jogados de um caminhão. É certo que a criançada se esbofeteava para pegar o seu, mas expertos como são, encheram sacolas de supermercados de joguinhos, bolas, bonecos, carrinhos, lápis, réguas e tudo mais. Não vi ninguém sair sem no mínimo dois ou três presentes.

Mais tarde, na escola, já um pouco mais organizado, eles faziam fila para falar com os reis e ganharem mais presentes. Desta vez brinquedos melhores, de qualidade. E todos ganharam. Na porta, churros e refrigerante para todos.

Foi um dia especial. Mas na verdade, eu mesmo acabei ficando sem presente. Alguém me manda algum?
(Na foto, a cavalgada no centro de Valência)