domingo, 23 de agosto de 2009

Hegemonía brasileña en Valencia

Eu só pude escutar o barulho dos motores pelo lado de fora do circuito (não queria gastar uma fortuna para entrar). Lá da praia, não soube que Barrichello tinha ganhado o GP quando os carros pararam e acabou o ruído quase infernal . A feliz notícia só recebi quando cheguei em casa e confesso que me senti todo orgulhoso. Segundo ano da Fórmula 1 aqui em Valencia e segunda vitória brasileira. Nós mandamos e desmandamos no pedaço!

Brincadeiras à parte, o Rubinho merecia essa vitória. E se é aqui pertinho de mim, melhor ainda, mesmo que eu não o tenha visto. Depois de tanta confusão, de tanta crítica e de quase ter ficado sem equipe este ano, ele está literalmente dando a volta por cima e levando nosso nome mundo afora. Se no ano passado Felipe Massa entrou para a história como o primeiro piloto a vencer no circuito de Valencia, este ano Rubinho garantiu a hegemonia brasileira e entrou para a história como o piloto que conquistou a 100ª vitória do Brasil nos mundiais da F-1. Agora é torcer para quem sabe sermos campeões este ano. Ainda faltam seis corridas e não é impossível.

Enquanto isso, Valencia irá voltando à normalidade. Como é um circuito urbano, uma parte da cidade, próxima ao Porto, fica fechada durante esses dias. O bloqueio não é somente nas ruas que são usadas na competição, mas em outras tantas para organizar os acessos e por medidas de segurança também.

E é aí onde os valencianos podem se beneficiar da corrida. Moradores de prédios vizinhos ao circuito alugam suas varandas para os mais abonados assistirem à prova com toda a comodidade. O preço médio é de 250 euros por pessoa uns R$ 680), com buffet incluído. Dentro do circuito, os ingressos custam de 100 euros (sem direito a cadeira) a quase 500 euros nas melhores zonas. No ano passado, sem crise, teve gente que chegou a lucrar 20 mil euros ao disponibilizar a casa para grupos. Pena que eu não moro numa dessas ruas.

Fotos: Felipe Ramirez
De cima para baixo:
1 - Esse blogueiro que vos fala.
2 - Uma das ruas do circuito.
3 - Galpões do Porto transformados em boxes.
4 - Ferrari, sem Felipe Massa, prepara carro para corrida.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

És possible parlar dues llengües a la vegada?

Es posible hablar dos idiomas a la vez?
É possível falar dois idiomas ao mesmo tempo?

Parece que sim. Na verdade, com certeza que sim e até em três pelo visto. Viver numa sociedade bilíngue tem suas particularidades e seus aprendizados. Logo quando cheguei a Valencia, achava muito estranho escutar no metrô, por exemplo, duas pessoas conversando entre si, porém cada uma numa língua diferente. Como aqui são dois os idiomas oficiais, o espanhol e o valenciano/catalão, é muito comum ver pessoas que usam um deles falando com outras que usam o outro. Eu me perguntava: mas se os dois falam os dois idiomas, por que não conversam no mesmo? Mais estranho ainda era abrir jornais de prefeituras daqui ou até mesmo jornais comunitários em que cada notícia vinha numa língua. Sempre achei que deveriam eleger uma delas ou bem publicar todas as reportagens nas duas.

Mas por questões principalmente políticas, mas também pessoais ou simplesmente de conhecimento da língua, cada um opta pela sua e assim as coisas vão acontecendo.

Esquisito? Visto de fora pode até parecer, mas depois de quase dois anos aqui, já entrei no jogo e me vejo muitas vezes na mesma situação. Melhor dizendo, eu pioro a situação. Com o Daniel, por exemplo, um amigo daqui que também fala português, sou capaz de usar os três idiomas ao mesmo tempo. Já tentamos de tudo para combinar pelo menos dias alternados para usarmos cada uma das línguas, mas parece que isso já ficou impossível.

Mudamos de idioma o tempo todo ao longo da mesma conversa. Ele quer treinar o português comigo, eu quero treinar o valenciano com ele, mas muitas vezes temos que recorrer ao castelhano porque temos dúvidas em um dos dois anteriores.

Já na sociedade valenciana a questão não é tão simples como dois amigos praticando uma língua nova. Historicamente perseguido pelo Estado Espanhol, o valenciano ou catalão foi perdendo espaço numa região em que outrora foi um país independente, com sua língua e seus costumes próprios, assim como também era Galiza e País Basco. Até chegar aqui eu também não sabia, mas Espanha como tal só existe desde o princípio do século XVIII. Antes a Península Ibérica tinha outra divisão política e a junção forçada destas nações num mesmo Estado causou problemas com consequências graves até hoje. Não é à toa o terrorismo do grupo separatista ETA nem as manifestações pela língua na Catalunha com maior força e em Valencia com menor visibilidade.

Durante os anos da última ditadura pela qual passou a Espanha, que durou quase 40 anos e só terminou em 1975, as línguas foram perseguidas e manobras políticas forçaram o uso do castelhano nas regiões que não o usavam. Hoje, uma parcela da população luta por manter viva uma língua e uma história que continua em segundo plano para os governos. E eu tô aqui, para ajudar a engrossar essa rica mistura.


Obs. 1: As fotos são da última manifestação pela cultura e língua do País Valenciano, em maio.
Obs. 2: Para os que estavam acompanhando a saga do Caminho de Santiago, pretendo terminar de postar, prometo!